A transição energética não é apenas um detalhe técnico, tampouco um tema restrito a especialistas em infraestrutura. Ela está ligada diretamente às mudanças climáticas e afeta a vida de toda a população: da economia à saúde, da moradia ao preço dos alimentos.
Discutir transição energética é, na verdade, disputar o modelo de desenvolvimento do país.
O Que é e Por Que é Urgente?
Na teoria, a transição energética é o processo de mudar o modelo de produção e consumo de energia. Isso significa reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás) e aumentar o uso de fontes limpas, como solar, eólica e biomassa.
A urgência dessa mudança vem da realidade que já bate à nossa porta. A crise climática já afeta a vida do povo com secas prolongadas, enchentes devastadoras e energia cara. O planeta está perigosamente próximo de atingir o limite de 1,5°C de aumento na temperatura média global. Ultrapassar essa marca significa colocar em risco ecossistemas inteiros e a própria vida humana.
A meta, portanto, deve ser produzir a energia de que precisamos sem destruir o clima e sem comprometer as futuras gerações.
“Somar” Não é “Trocar”
Existe um grande equívoco sendo vendido como solução. Se um país apenas adiciona fontes renováveis à sua matriz, mas continua aumentando o uso de petróleo e gás, não existe redução real de carbono. Isso é apenas uma diversificação de matriz, não uma transição.
A dependência de petróleo e gás amplia riscos econômicos e climáticos. Para haver uma mudança real, é preciso haver uma queda absoluta no uso de fontes sujas. A transição verdadeira exige frear a expansão fóssil e orientar o sistema para uma matriz limpa.
O Brasil: Vantagem Natural x Risco de Privatização
O Brasil possui uma vantagem invejável: 84% da nossa matriz elétrica é limpa, o que nos torna uma referência global. No entanto, existe um risco iminente.
Sem planejamento público forte, a transição energética pode virar apenas um negócio para poucos, e não um direito de toda a população. A energia precisa estar a serviço do povo, e não focada no lucro de acionistas privados. Se não houver inclusão e controle social, o processo vira apenas um “negócio verde”, mantendo a desigualdade.
Transição Só é Transição Se For Justa
Para que a mudança de modelo energético seja legítima, ela precisa ser justa. Isso significa garantir quatro pilares fundamentais:
- Energia limpa e acessível para todos;
- Benefícios e custos distribuídos de forma justa;
- Respeito aos territórios e aos povos que sustentam essa transformação;
- Participação social nas decisões.
Responsabilidade Compartilhada: O Papel dos Estados
A transição energética é uma responsabilidade compartilhada. Enquanto a União define as grandes regras e as metas nacionais, os estados têm o dever de implementar e adaptar essas políticas regionalmente.
Cada estado tem um papel decisivo nesse processo. O planejamento regional é essencial para construir um futuro energético que respeite as vocações locais e atenda às necessidades da população. Por isso, é fundamental que cada unidade da federação institua sua própria Política Estadual de Transição Energética.



